Content-type: text/html Downes.ca ~ Stephen's Web ~ 'As pessoas não farão cursos pelo celular, isso é loucura', diz pesquisador

Stephen Downes

Knowledge, Learning, Community

Folha de S.Paulo, Feb 08, 2016

(English Translation Below)

RICARDO BUNDUKY
02/08/2016 16h08

Folha de S.Paulo.

https://www1.folha.uol.com.br/educacao/2016/08/1797685-as-pessoas-nao-farao-cursos-pelo-celular-isso-e-loucura-diz-pesquisador.shtml

O canadense Stephen Downes, 57, se dedicou ao ensino a distância pelos últimos 25 anos. Pesquisador do National Research Council, do Canadá, ele e sua equipe desenvolveram diversas ferramentas de apoio ao ensino a distância ao longo de duas décadas, entre comunidades virtuais, sistemas de gestão de aprendizagem e softwares de distribuição de conteúdos.

Ele defende o uso de recursos educacionais abertos e de configurações de aprendizagem cada vez mais personalizadas, com acompanhamento das necessidades de cada aluno. Ele compartilha análises e tendências do e-learning através da newsletter diária OLDaily, recebida por centenas de seguidores ao redor do mundo .

Para Downes, não há diferença de qualidade entre o modelo presencial e a distância. "Embora muita gente pense que é melhor ouvir instruções de alguém falando em frente a elas, isso não é melhor que uma instrução recebida através de um vídeo, de uma conferência on-line ou de qualquer outra tecnologia de ensino."

  Arquivo Pessoal  
Stephen Downes, 57, pesquisador do National Research Council, do Canadá
Stephen Downes, 57, pesquisador do National Research Council, do Canadá

Ele e o pesquisador George Siemens são proponentes de uma teoria de aprendizagem moderna, o conectivismo, segundo a qual o aprendizado é fruto de executar atividades e de participar ativamente de comunidades virtuais. "Colocar as pessoas em salas de aula e ter um professor dizendo-lhes coisas não é uma forma eficaz de aprendizagem", afirma.

Segundo o pesquisador, o uso do smartphone na educação, tendência entre os cursos do segmento, deve ser encarado como uma tecnologia de apoio. "As pessoas não vão fazer cursos lendo os conteúdos em seus celulares, isso é loucura. Por razões de todo tipo, ​​como tamanho da tela, vida útil da bateria ou taxas de dados, o que torna impraticável para uma pessoa mesmo no Canadá e muito mais num lugar onde dados e telefones custam muito mais".

Em 2008, com George Siemens, então professor da Universidade de Manitoba, os dois criaram um curso para difundir o conectivismo para alunos presenciais e abriram as aulas na internet. Com cerca de 2.000 inscritos, a iniciativa foi tida por especialistas como o primeiro Mooc (sigla para curso on-line aberto e em massa). A modalidade se tornou popular com o surgimento da plataforma Coursera, em 2012, que reúne graduações de universidades renomadas.

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Leia abaixo algumas das opiniões de Downes sobre o e-learning.

NOVIDADES
Começamos a ver, no mundo dos negócios, programas mais baseados em competências para executar tarefas ou para objetivos profissionais específicos. Relacionado a isso, há mais personalização e sistemas de aprendizagem adaptativa, com foco nas necessidades e nos interesses do aluno. A aprendizagem on-line aberta é novidade, os Moocs. Começaram em 2008, tornaram-se populares em 2012 e têm tomado cada vez mais tempo e recurso das universidades e faculdades. Hoje se discute, inclusive, a sua implementação em níveis educacionais mais baixos. Recursos educacionais abertos são um conceito que tem rondado os últimos 14 anos, mas ganharam valor especialmente de um ou dois anos para cá. Nos Estados Unidos, por exemplo, várias faculdades declararam que deixarão de utilizar livros didáticos registrados e usarão livros abertos.

FUTURO
Algo para se observar é a distribuição da aprendizagem em configurações mais práticas, aplicativos informais para ensinar a usar uma ferramenta, um equipamento ou um software. Isso seria mais útil, por exemplo, no apoio aos escritórios. Outra coisa é uma relação entre os recursos de aprendizagem, informações sobre as suas habilidades e avaliações e as oportunidades de recolocação profissional. Todos os seus dados de aprendizagem estarão on-line. É possível que a sua atividade alimente sites de recrutamento de emprego, e, a longo prazo, em vez de tirar notas ou certificados, você terá ofertas de emprego ou de contrato.

NOVAS TECNOLOGIAS
O que tem atraído interesse recentemente é o "blockchain", uma tecnologia de criptografia usada nas moedas digitais, como o "bitcoin". Essa tecnologia pode ser usada para codificar certificados, registros. Então o "blockchain" pode ser usado como um mecanismo para verificar as credenciais de uma pessoa, para tornar difícil ou impossível falsificar o seu grau ou o seu programa.

USO DO MOBILE
O uso do celular em todo o mundo estabilizou em cerca de 3 bilhões de pessoas, as estatísticas mostram uma desaceleração na distribuição de aparelhos.

Para esses 3 bilhões de pessoas, tecnologias móveis estão oferecendo oportunidades de aprendizagem potenciais. Mas precisamos ter em mente que as pessoas não vão fazer cursos lendo os conteúdos em seus celulares. Isso é loucura. Por razões de todo tipo, ​​como tamanho da tela, vida útil da bateria, taxas de dados, o que torna impraticável para uma pessoa mesmo no Canadá e muito mais num lugar onde dados e telefones custam muito mais.

O que encontramos na aprendizagem móvel é uma tecnologia de apoio. Em segundo lugar, o computador móvel será usado para conectar a aprendizagem a sistemas externos. Um exemplo simples: as pessoas usam QR Code, que lhe dão uma referência sobre determinada informação baseada em outro plano. Algo aparece primeiro em seu telefone móvel, mas se você quer estudar detalhadamente, terá de voltar para o computador principal. Então, com o passar do tempo, vamos usar o QR Code e NFC (tecnologia para transmissão de dados entre aparelhos próximos) para fornecer os recursos básicos nos telefones e esses recursos serão complementados.

CONECTIVISMO
Conhecimento são as ligações que fazemos entre os neurônios. E isso é tudo. Se sabemos que Paris é a capital da França, não temos uma frase em nosso cérebro, uma pequena imagem de Paris ou alguém sussurrando "Paris é a capital... ', apenas neurônios e conexões entre eles.

Qualquer sistema complexo que estabeleça um conjunto de conexões entre entidades pode ter conhecimento. Pessoas têm conhecimento, redes sociais têm conhecimento, centrais elétricas têm conhecimento. Se você olhar para um sistema de estradas de um país, é um tipo de conhecimento. A aprendizagem é o cruzamento, a formação e o fortalecimento das conexões. E as ligações entre os neurônios se formam como resultado da prática ou exercício, basicamente trabalhando e se comunicando com outras pessoas no que eu chamo de um domínio autêntico da questão. Portanto, a ideia do conectivismo é que você trabalha dentro de uma rede social.

Um monte de gente responde, quando perguntadas sobre o que é a aprendizagem, que alguém lhes diz alguma coisa e em seguida elas aprendem. Na melhor das hipóteses, com sorte, elas vão se lembrar. Fazer alguém repetir a mesma coisa várias vezes é memorização, o que não é útil de forma mais abrangente. Se uma pessoa participa de uma rede social, resolve problemas, cria coisas, faz atividades, fala com outras pessoas, ela adquire o amplo alcance do conhecimento nessa comunidade. Não domina apenas uma lista de fatos, mas desenvolve habilidades, aprende como fazer algo, o significado das palavras, como usá-las, o que conta como problema, o que conta como evidência.

Tornar-se um físico, por exemplo, não é lembrar um monte de fatos sobre física. É transformar a si mesmo através dos exercícios e praticar física –você literalmente se torna um físico. É isso que o conectivismo diz. Colocar as pessoas em salas de aula e ter um professor dizendo-lhes coisas não é uma forma eficaz de aprendizagem. Pesquisas concordam com isso.

ENSINO TRADICIONAL X A DISTÂNCIA
Há diversos estudos reunidos num livro chamado "No Significant Difference Phenomenon", no qual se conclui que para tipos equivalentes de instrução, não há diferença criada pela tecnologia ou pelos meios empregados. Embora as pessoas pensem ser melhor ouvir instruções de uma pessoa falando na frente delas, verifica-se que isso não é melhor que uma instrução recebida através de um vídeo, de uma conferência on-line ou de qualquer outra tecnologia de aprendizagem. Estudos estão provando isso.

PRINCIPAL DESAFIO PARA O E-LEARNING
A diferença é que, no e-learning, você tem que fazer um investimento maior e estar mais preparado no início ou antes do curso. No ensino tradicional –e sei porque fui professor–, o instrutor não precisa ter o curso todo planejado antes que as pessoas se inscrevam. Ele pode apenas entrar na sala de aula e preparar o curso ao longo do caminho. No on-line você precisa preparar antes o conteúdo do curso, das tarefas e os meios de comunicação. Ou seja, deve ter um investimento inicial antes de ter estudantes. Isso cria um gargalo de recursos e obstáculos administrativos.

Outro desafio é o treinamento. Tecnologias educacionais são novidade para muita gente, em particular para aquelas que ensinaram apenas na sala de aula tradicional. São necessários tempo e recursos para permitir que essas pessoas se familiarizem com a tecnologia que usarão para dar aulas ou apoio.

 

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'People will not take courses on their cell phones, this is crazy', says researcher

Canadian Stephen Downes, 57, has dedicated himself to distance learning for the past 25 years. A researcher at the National Research Council in Canada, he and his team developed several tools to support distance learning over two decades, including virtual communities, learning management systems and content distribution software.

He advocates the use of open educational resources and increasingly personalized learning settings, with monitoring of the needs of each student. He shares analysis and trends in e-learning through the daily OLDaily newsletter, received by hundreds of followers around the world.

For Downes, there is no difference in quality between the face-to-face model and distance. "While many people think that it is better to hear instructions from someone speaking in front of them, it is no better than instruction received through video, an online conference or any other teaching technology."

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He and researcher George Siemens are proponents of a modern learning theory, connectivism, according to which learning results from performing activities and participating actively in virtual communities. "Putting people in classrooms and having a teacher tell them things is not an effective way of learning," he says.

According to the researcher, the use of smartphones in education, a trend among courses in the segment, should be seen as a supporting technology. "People aren't going to take courses reading the content on their cell phones, that's crazy. For all kinds of reasons, like screen size, battery life or data charges, which makes it impractical for a person even in Canada and much more in a place where data and phones cost a lot more ".

In 2008, with George Siemens, then a professor at the University of Manitoba, the two created a course to spread connectivity to face-to-face students and opened classes on the internet. With around 2,000 applicants, the initiative was taken by experts as the first Mooc (acronym for open and mass online course). The sport became popular with the emergence of the Coursera platform in 2012, which brings together graduations from renowned universities.

Read some of Downes' opinions on e-learning below.

NEWS
We are beginning to see, in the business world, more competency-based programs for performing tasks or for specific professional goals. Related to this, there is more personalization and adaptive learning systems, focusing on the needs and interests of the student. Open online learning is new, Moocs. They started in 2008, became popular in 2012 and have taken more and more time and resources from universities and colleges. Today, it is even discussed its implementation at lower educational levels. Open educational resources are a concept that has been around for the past 14 years, but have gained value especially in the past year or two. In the United States, for example, several colleges have declared that they will stop using registered textbooks and will use open books.

FUTURE
Something to watch for is the distribution of learning in more practical settings, informal applications to teach how to use a tool, equipment or software. This would be more useful, for example, in supporting offices. Another thing is a relationship between learning resources, information about your skills and assessments, and opportunities for job placement. All of your learning data will be online. It is possible that your activity feeds job recruitment sites, and in the long run, instead of taking notes or certificates, you will have job or contract offers.

NEW TECHNOLOGIES
What has attracted interest recently is "blockchain", a cryptography technology used in digital currencies, such as "bitcoin". This technology can be used to encode certificates, records. So "blockchain" can be used as a mechanism to verify a person's credentials, to make it difficult or impossible to falsify their grade or program.

USE OF MOBILE
Cellular use worldwide has stabilized at around 3 billion people, statistics show a slowdown in the distribution of handsets.

For these 3 billion people, mobile technologies are offering potential learning opportunities. But we need to keep in mind that people are not going to take courses reading the content on their cell phones. This is crazy. For all kinds of reasons, like screen size, battery life, data rates, which makes it impractical for a person even in Canada and more in a place where data and phones cost a lot more.

What we find in mobile learning is assistive technology. Second, the mobile computer will be used to connect learning to external systems. A simple example: people use a QR Code, which gives you a reference on certain information based on another plan. Something appears first on your mobile phone, but if you want to study in detail, you'll have to go back to the main computer. So, over time, we will use QR Code and NFC (technology for data transmission between nearby devices) to provide basic features on phones and these features will be complemented.

CONNECTIVISM
Knowledge is the connections we make between neurons. And that is all. If we know that Paris is the capital of France, we don't have a phrase in our brain, a small image of Paris or someone whispering 'Paris is the capital ...', just neurons and connections between them.

Any complex system that establishes a set of connections between entities can have knowledge. People are aware, social networks are aware, power plants are aware. If you look at a country's road system, it's kind of knowledge. Learning is the crossing, formation and strengthening of connections. And the connections between neurons are formed as a result of practice or exercise, basically working and communicating with others in what I call an authentic domain of the issue. Therefore, the idea of ​​connectivism is that you work within a social network.

A lot of people respond, when asked what learning is, that someone tells them something and then they learn. At best, with luck, they'll remember. Getting someone to repeat the same thing over and over again is memorization, which is not useful more broadly. If a person participates in a social network, solves problems, creates things, does activities, talks to other people, he acquires the wide range of knowledge in that community. He doesn't just master a list of facts, but develops skills, learns how to do something, the meaning of words, how to use them, what counts as a problem, what counts as evidence.

Becoming a physicist, for example, is not remembering a lot of facts about physics. It is transforming yourself through exercise and practicing physics - you literally become a physicist. That's what connectivism says. Putting people in classrooms and having a teacher tell them things is not an effective way of learning. Research agrees with this.

TRADITIONAL EDUCATION X DISTANCE
There are several studies gathered in a book called "No Significant Difference Phenomenon", in which it is concluded that for equivalent types of instruction, there is no difference created by technology or the means employed. Although people think it is better to hear instructions from a person speaking in front of them, it turns out that this is no better than an instruction received through a video, an online conference or any other learning technology. Studies are proving this.

MAIN CHALLENGE FOR E-LEARNING
The difference is that, in e-learning, you have to make a larger investment and be more prepared at the beginning or before the course. In traditional teaching - and I know why I was a teacher -, the instructor does not need to have the entire course planned before people enroll. He can just enter the classroom and prepare the course along the way. In online you need to prepare the content of the course, assignments and the means of communication beforehand. That is, you must have an initial investment before having students. This creates a resource bottleneck and administrative obstacles.

Another challenge is training. Educational technologies are new to many people, particularly those who taught only in the traditional classroom. Time and resources are needed to enable these people to become familiar with the technology they will use to teach or support.

Mentions

- 'As pessoas não farão cursos pelo celular, isso é loucura', diz pesquisador - 02/08/2016 - Educação - Folha de S.Paulo , Oct 06, 2020



Stephen Downes Stephen Downes, Casselman, Canada
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Last Updated: Dec 16, 2024 08:26 a.m.

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